quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Novela de uma gordinha... - 5° parte


[A tormenta...]
Essa era a minha 15° semana desde o dia que a aposta começou... Eu havia estacionado depois de emagrecer facilmente 12 kgs... Comecei a ficar frustada mas Mari dissera que isso era natural. Nesse dia em especial eu estava na hora que havia se tornado um dos meus maiores suplícios: Compras de supermercado em família. Era mais fácil dizer não para o pequeno TJ que toda hora colocava doces e guloseimas no carrinho quando íamos sozinhos, mas o meu maior problema agora era o MEU MARIDO.
- ... e nós não estamos de dieta!!! Por que não vamos levar? - A minha irritação só subia. Era verdade que conversamos mais cedo sobre a lista de compras... a resposta foi um desinteressado "o que vc escolher está bom.." assim como as perguntas do que eu iria fazer para as refeições... Mari tinha me dito que uma das importantes leis da vida (não somente da dieta) era "se mantenha na lista". Isso era bom tanto para o corpo como para o bolso...
- Porque não está na lista!! E ainda mais! Se levarmos é só isso que ele vai comer! Ele já não anda comendo muito...
- Claro! Agora você só prepara mato! Quem quer viver assim? - Cravei as mãos no carrinho. Minha vontade era voar no pescoço dele. TJ puxou a minha manga. Eu virei furiosa para o pequeno.
- O que é dessa vez?! - Ele se encolheu e mostrou o punho do carrinho. Minhas mãos sangravam... Eu entreguei a lista suja de sangue para Carlos.
- Termine as compras! - Virei e saí contendo as lágrimas e enrolando as minhas mãos na minha encharpe.
Depois de alguns segundo havia saido do supermercado e andava pelo centro comercial. A minha cabeça estava a mil, e eu não conseguia reter um pensamento por mais de 10 segundos... a explosão inicial havia passado, mas a vontade de chorar e a frustração, não. Ao passar na frente de uma confeitaria, me detive fronte a um das vitrines giratórias.
"Oh, Céus! Eu PRECISO de um desses!!" Foi o único pensamento que se deteve na minha mente. Eu olhei chocada para o meu reflexo na vitrine. Eu não acreditava no que eu havia pensado... ou que aquele fora o único pensamento que ficou na minha cabeça! Desde quando eu PRECISO de um pedaço de bolo??? Olhei em volta já entrando quase em desespero peguei o celular e disquei um numero quase cegamente... Uma voz masculina atendeu do outro lado.
- Alô?
- Por favor, Mari está? - o som do telefone colocado na mesinha, passos do outro lado... segundos que pareceram eras enquanto a minha boca salivava por uma das tortas da confeitaria...
- Alô? - Eu me agarrei ao fone quase em prantos.
- Mari? Vc tem alguns minutinhos? Preciso de um ombro amigo... - A voz do outro lado pareceu apreensiva.
- Nara? O que houve? Você está bem?
- Não estou... Pode me encontrar?
- Claro... Onde vc está?
...
Mari não demorou muito. Eu preferi andar para não ceder à tentação da confeitaria.
Mari chegou acompanhada. Naquele momento eu não sabia onde onde enfiar a cara... Eu já estava com a maquiagem borrada e os olhos mareados... havia me controlado bastante para não chorar, mas lágrimas teimavam em correr pelo meu rosto... e que pra mim não tinha razão aparente... Mari deu um beijo no homem que a acompanhava e eles se separaram. Ao me ver, ela abriu os braços e aí sim pude dar vazão ao meu choro... As lágrimas fluiam e eu não conseguia entender bem o porquê. Sentamos na mesma confeitaria que eu havia passado minutos atrás e pedimos um chá.
- Eu não sei porque eu ando tão impaciente e triste, Mari... eu já consegui emagrecer mais do que em toda minha vida adulta, mas ainda me sinto o mesmo lixo de 3 meses atrás... - Mari olhou-me condescendente.
- Fale-me... o que houve? - eu discorri de toda a discussão, desde a montagem da lista de manhã, a discussão no corredor das geléias no supermercado e o pensamento sobre o bolo ou torta, em frente daquela mesma confeitaria. Mari ouviu tudo calmamente...
- ... e eu não sei agora porque eu estou tão triste! - Mari bebericou o chá e pousou a xícara na mesa sem me olhar e soltou em um suspiro:
- ... então o paliativo finalmente teve seu fim... Eu me questionava qdo chegaríamos nesse ponto... - Eu olhei para Mari um pouco desconcertada.
- Paliativo? - Mari me fitou nos olhos.
- Sim, linda. Até agora o que fizemos até hoje foi um paliativo... Distrações para retirarmos parte dessa "casca" causados por excessos que hoje não te incomodam mais. Mas ainda nem chegamos na "outra Nara", aquela que está forçando pra aparecer e agora, resistindo em ficar. A mesma que faz pensamentos como esse que vc acabou de ter, do "precisar do bolo"... por que? Por ter brigado com Carlos por não querer levar um pacote de biscoitos? Veja bem... esses são pontos que te ferem, machucam, incomodam que a "outra Nara" protegeu para não te atinjam mais. Só que esses mesmos pontos que te atingem, a afetam também, entende? A diferença é que "ela" cobra um preço pra não deixar que isso chegue em você. Para algumas pessoas é uma dose de uisque em pleno meio-dia de uma quarta-feira, pra outras é aquela hora da pausa pro cigarro no meio de uma reunião... Para pessoas como eu e você é o chocolate, sorvete ou pedaço de pizza fora dos horários das refeições. É o preço que nós pagamos para... não doer mais do que já doi... Infelizmente... - e deu mais um gole no chá.
O silencio se estendeu até ser quebrado novamente por Mari - Olhe agora para aquela vitrine rotatória. Algum daqueles bolos te atraem tanto quanto a alguns minutos atrás? - Eu desviei o olhar. Claro que me atraiam. É claro que eu queria um pedaço gigantesco daquela torta marron e suculenta que girava no segundo prato superior... A frustração parecia explodir no meu peito e a irritação fazia latejar a minha cabeça. Todo meu ser pedia uma... compensação... Algo pra desviar o foco enquanto o furor de sentimentos se acalmava dentro de mim. Eu só meneei a cabeça afirmativamente.
- Então a "outra Nara" não vai dar vazão a esses sentimentos enquanto não receber um pedaço de bolo? - Essa frase me fez rir, me lembrando do TJ e como Carlos o acalmava rapidamente com uma guloseima qualquer quando ele dava birra durante os passeios de família.
- Somos inexperientes nesse ponto, Nara. Fazemos o que nossos idolos nos ensinaram a fazer! Com o tempo o que eles faziam passamos fazer. Pra mim, era a modelo magérrima da novela das 7 que qdo estava triste se fartava de chocolate ou aquela adolescente do filme romântico que se afundava num pote de sorvete pra afogar as lágrimas e a tristeza que estava no peito. Se funcionam? Não sei. Mas considere que isso é a sua eterna rota de fuga. Assim a "outra Nara" crescerá cada vez mais e mais... Até tomar o seu lugar... A sua "proteção" atualmente tem... 58 kgs... é uma outra pessoa! Vai deixar com que ela tome o seu lugar? Vai deixar que ela viva a sua vida? - Eu enxuguei outra lágrima teimosa que teimava a rolar no meu rosto. Ela pôs a mão sobre a minha - Está com o seu caderno aí? - eu menei a cabeça afirmativamente e o tirei da bolsa. Ela abriu na parte azul com as tarefas e as perguntas que eu tinha que responder a cada semana. Eu tinha conseguido seguir disciplinadamente a maioria das tarefas que Mari me passava, apesar que na maioria das vezes não aparentavam ter sentido algum, mas que fazia sem questionar muito. Ela abriu na primeira folha que ainda estava com apenas uma pergunta no topo "Por que eu quero emagrecer?"
- Nara.. Vamos mudar essa pergunta: Por que você está gorda?
- Porque eu como errado e demais! - Ela sorriu.
- Mesmo? E por que você come errado e demais? Você sabe o que pode e o que não pode, o que faz bem o que te faz mal, até melhor que eu? Por que insiste em empurrar coisas como aquilo goela a baixo – Apontando pras tortas - como se fossem a cura sendo que na verdade são o veneno? - Aquilo me deixou terrivelmente chocada. Mari possuia o dom das palavras comigo e todas as verdades que ela me dissera até então não me pareceram tão doloridas. Mas ela continuou.
- Nara... Você quer mudar pelos motivos errados. Se não encontrar um motivo forte para lutar, vai enfrentar a mais terrível das batalhas; e pior, vai ser miserávelmente derrotada. - se levantou pegando o tiquet sobre a mesa.
- Emagrecer não é simplesmente alimentação e exercícios. Nem algo do tipo “tomei vergonha na cara e decidi emagrecer”. Vai além da sua vontade ou de qualquer coisa que você já tenha passado. Não é uma coisa que possa ser reduzida a uma simples equação, gastar mais que comer. Emagrecer significa mudar. Mudar radicalmente. Rever conceitos, escolhas, atitudes, posturas... principalmente forma de pensar. E mais do que tudo: na maioria das vezes, é doloroso mudar... - Eu levantei os olhos em direção a ela
- Mas... mas eu estou tão perto da meta da aposta... estou tão... - Mari me interrompeu.
- Espere... você ainda está pensando naquela aposta estúpida?? - eu mirei aqueles grandes olhos castanhos.
- Não é pra isso que continuamos a cada semana? - Mari riu.
- Oh não, Linda! Se está fazendo isso por causa da "aposta" o que estamos fazendo será trabalho perdido! Está fazendo a coisa certa mas pelos motivos errados. - eu me levantei irritada.
- E qual é a diferença se funciona!? - Mari baixou a cabeça.
- A diferença? É a diferença entre construir um castelo de areia e uma casa de tijolos! Você pode viver em ambos mas qual deles vai resistir a primeira tempestade? Qual delas vai ficar de pé, firme e sólida diante das interpéries da vida? Nara... você chegou a um ponto crucial e eu não posso mais passar a mão na sua cabeça. Essa hora você vai ter que se decidir. Porque, linda... agora essa tormenta só está começando... E te garanto... passar por ela não vai ser fácil. Mas garanto que será muito recompensador... - Ela se foi e me deixou sozinha na mesa observando a encharpe ensanguentada sobre a mesa...

[ Fim da quinta parte]


Gente... perdão pelo atraso mas tá aí o quinto capítulo da novela (que está já no final...). Tou em SP e sabem como é, estar fora do domicílio...
Bom... Queria seus pitacos sobre a novela!!!! O que vocês acham que vai acontecer? A Nara vai conseguir emagrecer? Uma bela amizade está ameaçada??? As amigas de Nara tinham razão e ela nunca vai mudar????
Tã tã tã tãããããããã!!!!!
(aguardem cenas do próximo capítulo...)

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Novela de uma gordinha... - 4° parte

Pessoas, peço desculpas por ter sumido, Fui pra SP semana passada - sem condições de postar...
Segue a 4° parte da novela...
Beijocas

P.s. Leitoras de SP gostaria de conhecê-las!!! Estou indo pra SP de novo no dia 21, volto pra casa dia 26. Quem puder (e quiser) conhecer essa que vos fala... mande um e-mail...


[Mari]

"Eu Tinha nascido em uma família grande, com sete irmãos. Era a caçula e a mais pararicada. Sempre. Vestidos, bonecas e principalmente especiarias eram todas direcionadas a mim. Aos 15 anos fui mandada para um colégio interno em outra cidade. Foi a primeira separação. Eu vinha de uma família grande e seria a primeira vez que eu ficava só. Foi muito doloroso... Resultado disso foram 30 kgs só no primeiro ano. Retornei para casa e minha família não via ou parecia não se importar com meu ganho de peso... Qdo eu retornei à escola não cabia mais no meu uniforme, que inclusive era a maior numeração que tinham. Nos anos seguintes, as minhas roupas eram feitas sob medida. Após 3 anos de regime de internato em um colégio só para moças eu voltei para casa. Tinha me formado com louvor sendo uma das garotas mais populares da escola... e com 60 kgs a mais... Aí começou a minha luta. Remédios, dietas mirabolantes. Com muita luta consegui me livrar de 20kgs. Essa foi a época q eu conheci o Pablo... Amor a primeira vista, apesar dele ser quase 10 anos mais velho que eu... Casamos com 7 meses de namoro. Mas a vida de Pablo era.. itinerante, para dizer o mínimo... Como funcionário de consulado, a cada ano estávamos em um país diferente. Era um choque para mim cada mudança, que eu fazia submissa. Já com 4 anos de casada tinha me tornado uma reclusa. Não havia muito motivo para sair e conhecer onde morávamos... qdo começava a aprender a língua do lugar e fazer amizades nós tínhamos que nos mudar... A geladeira e a TV eram as minhas principais companheiras... Não tinha motivo para comprar roupas... Pablo havia me dado uma máquina de costura. Eu gostava de costurar no Internato. E como eu estava cada vez maior (eu pesava 130) eu não iria encontrar roupas para o meu tamanho mesmo... Mal saia para ir em lojas de tecidos. E estava cada vez mais difícil sair... No quinto ano de casada, Pablo finalmente conseguira o que todo funcionário de um consulado desejava. Uma vaga no seu país de origem. Infelizmente não era o mesmo que o meu. Fixamos residência mas para mim ainda era difícil sair de casa. Tinha vergonha de mim, e o que os amigos de Pablo iriam dizer ao ver que ele tinha uma verdadeira elefanta em casa... Qdo completamos 6 anos, Pablo me surpreendeu com um presente. Passagens para que eu fosse visitar minha família. Não consigo esconder o quanto fiquei feliz com isso. Ele me mandou na frente. Disse que iria no mês seguinte. Ao chegar em casa vi algo que jamais pensei que teria que enfrentar. Os olhos chocados dos meus pais ao me ver. A primeira coisa que meu pai me falou foi 'o que aconteceu com vc??' nas semanas seguintes tive que enfrentar todo o tipo de piada... Desde 'Moby Dick' a 'Filha de Babar' Foi terrível pois eu tentava achar apoio e só encontrava chacota... Minha mãe foi a minha ancora. Conversávamos muito e fazíamos companhia uma a outra. Dois meses de convivência 'Familiar' havia dado resultado. Eu tinha perdido 10kgs... Foi qdo Pablo finalmente veio. Ela parecia mais sisudo que o normal. Mas o fato de me ver com menos peso surtiu seu efeito... Passamos por uma 'Segunda lua de mel'. Mas como tudo que acaba, tive que retornar para casa com Pablo. Foi um choque ter que retornar àquela vida de reclusa. Aí começaram os problemas. Eu me sentia muito mal de manhã, Calores e suava muito. As regras pararam de vir. Eu tinha apenas 27... estava muito nova para ser menopausa. Fui no médico e descobri que estava grávida... de 4 meses. Para mim foi um tremendo choque. Eu estava IMENSA. Como poderia ter engravidado? As chances eram mínimas e Pablo era um homem muito frio que mal me tocava. Mas ao sair do consultório eu me sentia estranhamente animada... A notícia da gravidez não foi bem recebida por Pablo. Ele ficara bravo e se distanciou mais. Os 3 meses seguintes ele praticamente desaparecera de casa. Mas eu mal me importava. Vibrava a cada mexida do bebê no meu ventre. Uma noite eu estava sentada na frente da TV tricotando roupinhas de Bebê, senti uma dor horrível. Depois o bebê parara de se mexer... Alarmada eu liguei para emergência. Eu mal conseguia ficar sentada. Só via estrelas. E pela reação dos médicos não parecia normal. Fui dopada e fizeram uma cesariana emergencial. A pequena Agnes havia nascido... Mas por uma série de eventos ela veio por falecer, 3 meses depois... Até hoje não consigo descrever a dor que eu senti ao saber da notícia... Meu médico dissera que eles fizeram o que puderam. Mas a minha gravidez fora de alto risco devido ao meu estilo de vida e a minha dieta. E que fora sorte o meu corpo não ter repudiado a criança nos quase 7 meses de gestação. O discurso dele foi como se a culpa de Agnes não sobreviver fosse minha. À voz dele se juntaram a de meu marido e as poucas pessoas que tinha a minha volta. Se eu vivia como eremita, o mês seguinte à morte de Agnes eu praticamente não saia da cama... Pablo que eu mal via antes, nesse momento eu não o via mesmo. Certa noite, arranjei forças para sair da cama, pois tinha ouvido sons pouco comuns. Minha surpresa foi que Pablo estava com outra mulher... Meu mundo terminara de cair... Foi nesta situação que veio os meus pais ao meu socorro.
Eles me jogaram na cara as verdades que eu não queria ver. Que eu estava me matando aos poucos. Que eu não precisava disso e que eu não tinha a completa culpa da morte da minha filha. Tinha a minha parcela por ter deixado a minha saúde debilitar tanto. Não parava de pensar como a minha vida podia ser diferente... Eles me levaram para casa e foi qdo eu comecei a emergir... Meus pais me levaram em médicos por causa da saúde debilitada e da gravidez. Esse novo médico ficou surpreso como eu ainda estava viva! Tinha problemas cardíacos, colesterol extremamente alto, taxa glicêmica no limite, hipertensão, além de sérios problemas nas articulações. A primeira coisa que ele me falou foi "Ou vc se livra dessa outra Mari ou vc morre..." Apesar de nunca ter ouvido com essas exatas palavras era uma coisa que eu já sabia... Só que DESTA vez havia me assustado. Minhas irmãs me levaram para uma horda de médicos... O diagnóstico era sempre o mesmo... Cheguei em casa pesando cerca de 136 kgs... Depois de um tratamento intensivo para baixar o colesterol e a taxa glicêmica e dois meses depois eu estava com 126. No natal do ano que eu voltei para casa eu estava bem, e infelizmente tinha voltado a engordar. Meus irmãos fizeram uma 'Brincadeira' que no dia achei cruel. Mas me fez acordar para o que eu não queria ver. Eles me deram uma caixa de madeira, grande o suficiente para eu entrar, mas coberta de espelhos. Eu fiquei horrorizada ao ver aquela 'coisa' no espelho... Nos meses seguintes tratei de me vigiar. Se eu pensava em comer um doce, eu corria para meu quarto e me mirava no espelho... Saia tão chateada que a vontade passava. Em seis meses eu havia me livrado de mais 20 kgs... Somente com alto controle e reeducação... O que era diário como doces e guloseimas passaram a ser esporádicos, o que eram esporádicos passaram a ser diários. Mas ainda me sentia inútil e mal saia de casa. Uma das minhas irmãs tinha uma loja de artesanato e sugeriu que eu ajudasse. Afinal eu era extremamente habilidosa. Meio a contra gosto eu fui. Ficava na loja no início 1 vez por semana. Conheci muita gente que hoje agradeço aos céus por tê-las colocado em meu caminho. Comecei a me livrar da "segunda Mari" ao fim do verão. Minha primeira atitude foi parar de ficar enclausurada em casa. Passei a caminhar no fim da tarde. Mas não para "emagrecer" Eu me recusava fazer atividade física, com medo que a outra "Mari" comprometesse mais as minhas articulações... Saia apenas para ver o mundo, conhecer a minha vizinhança... tanto que nessas caminhadas eu levava 2 ou 3 horas para completar 1 quarterão... No meu aniversário de 30 anos, quase 3 anos depois da morte da pequena Agnes, eu estava 55kgs mais magra! Uma vitória! Júlio, um grande amigo me deu o Faísca. Um cãozinho muito companheiro e amigo... Com esse grande amigo as minhas caminhadas se tornaram mais frequentes... E uma peça chave para eu dar adeus ao que restava da 2° Mari. Nessa época eu ficava mais dias na lojinha. Incentivada por todos a minha volta, passei a ministrar cursos de artesanato, a minha profissão e paixão. Passei a ver mais gente e viajar... Meus trabalhos ficaram famosos e comecei a viajar para divulgar em feiras e amostras... Ainda levei mais 1 ano para me livrar dos últimos 20 kgs. Mas foi numa dessas andanças que conheci Artur, meu noivo... "
- ... E hoje eu não me subjugo a ele como eu me submetia a Pablo... afinal eu quero alguém ao meu lado e não acima de mim! Mas Artur é mais alegre e jovial... me dá vontade de ver o mundo, sabe? Nós estamos noivos, decidi sair mais uma vez da minha cidade natal mas desta vez estou a 3 horas de viagem e não em outro país. Tb não me anulo. Somos duas pessoas... eu não me sinto uma extensão dele, sabe? - O rosto de Mari se iluminou... - Não devíamos fazer isso com nós mesmas, não é? Hoje sei que se eu tivesse cuidado mais de mim, da minha alimentação e do meu corpo, talvez a minha estrelinha tivesse mais chance, sabe? Mas tem um grande SE nessa história... e o que seria da vida se só fizéssemos as escolhas certas? Agora eu tenho uma nova chance... e deixei a "Mari boba" para trás... assim como vc tb pode deixar a "outra Nara" Eu quis me livrar da "Mari boba". Então eu me livrei das coisas que não me agradavam, deixando a "outra Mari". Mas só pude me livrar dela qdo eu estava pronta para deixar ela para trás... e vc? Está pronta para deixar a "outra Nara"?

Saí da casa da Mari refletindo... Realmente eu estava vivendo como 2 pessoas. Mas não tinha a menor idéia do que ela quis dizer com estar pronta para deixar a "outra Nara".

[ Fim da quarta parte]

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Novela de uma gordinha - 3° parte

Vamos pra terceira parte da novela... Adianto que essa é uma obra de TOTAL ficção....
Beijos da Maya

A mulher serena

Já haviam se passado seis semanas desde o dia da aposta. Com exatos menos 10kgs sem dieta. Eu e a Mari tínhamos nos tornado unha e carne, e passamos a nos encontrar no meio da semana. Na hora do almoço, na hora da saída do trabalho. A cada dia eu via uma mulher que apesar de ter porte franzinho e pequeno, era extraordinária, em perfeito equilíbrio. Serena e calma, mas firme e determinada. Mari fora trazida para a mesa naquela noite por Miriam. Miriam dissera que era uma prima distante que tinha acabado de se mudar para a cidade. Precisava conhecer e se enturmar para uma nova vida. Em um dia no domingo conversávamos trivialidades. Mais sobre crianças e decoração de casa (Patchwork, obviamente, a minha nova paixão!) Eu a essa altura já tinha terminado o jogo de 6 almofadas que agora decoravam a minha sala. TJ brincava na sala com os milhares de retalhos que eu havia comprado que faria parte de sua nova manta.  Eu ainda estava indecisa entre tantas opções enquanto TJ só falava "verde! verde! verde"  Mari me ajudava entre os muitos tecidos decidir o que colocar. TJ adorava cavaleiros e espadas. Minha idéia então foi montar uma manta com gazelas e cervos, uma floresta e um arqueiro ao fundo. Tudo bem verde como pedia o pequeno TJ.  Mas ainda tinha alguma dificuldade de ver o resultado final enquanto Mari parecia ter um "terceiro olho". Ainda não me sentia segura o suficiente para me lançar em um "trabalho de Hércules" como aquele mas me sentia animada. Ela colocou alguns retalhos no meu colo para me decidir pelas cores dos cervos, mas aos meus olhos os faziam parecer iguais. Vendo a minha indecisão, ela puxou uma grande sacola.
- Talvez isso ajude...
De dentro da bolsa surgiu uma linda manta infantil branca e rosa, com um aplique de ursinho dormindo em uma nuvem (rosa) e estrelas ao fundo. Ela havia aproveitado a estampa de um tecido e só deu fundo e mais cor. Um belo trabalho que aos olhos de uma leiga pareceria simples, mas mesmo eu, apenas uma aprendiz via que era um trabalho bem difícil de se fazer. Ela tinha respeitado os limites do ursinho mesclando linha preta e marrom. Além de não ter nem uma falha... eu passei a mão nos apliques de estrelas feitos com cetim amarelo claro e rosa bebê(tecido bem difícil de se trabalhar), dando suavidade ao todo quadro...
- é Linda... Você quem fez? - Mari acenou positivamente. Ela começou a apontar para os detalhes do ursinho...
- Vê essas cores? São meros detalhes mas que se tivessem sido escolhidos de forma errada ficariam em desarmonia... - Ela puxou os retalhos para o próprio colo. - Assim como esses daqui. Se eles forem claros demais ou escuros demais para o fundo que vc for aplicar, vão ficar destoantes e chamar mais a atenção... E quem tem que brilhar é todo quadro, certo?
- ROBIN HOOD! Mamãe vai me fazer um cobertor do Robin Hood! - TJ encostou o rostinho sorridente nas penas de Mari. Mas não ficou muito tempo. Logo ele correu para o quarto para pegar um dos seus arcos ou espadas de brinquedo. Eu suspirei separando os retalhos escolhidos.
- Eu só espero terminar essa manta antes que ele perca esse interesse todo ou que ainda ele possa usá-la! - Eu deixei os retalhos de lado e me voltei a manta que Mari tinha trazido. Era um belo trabalho mesmo... - Será que eu ainda faço algo assim?
Mari sorriu para mim.
- Claro! Se vc realmente quiser. Assim como a arte de fazer mantas, é nossa vida, Nara. Não podemos ser extremistas. Ser escura demais ou brilhante demais atrapalha tudo que está a nossa volta... Se vc é escura demais, passa desarpecebido. Se é brilhante demais pessoas vão se afastar por causa do seu brilho, apesar de vc ser a coisa que mais aparece! - Nós rimos da piada de duplo sentido. Mari passou a mão na manta com carinho e tornou a guardá-la.
- Para quem fez essa manta? - Mari fechou a bolsa e tornou a mexer nos retalhos.
- Para minha filha. A minha estrelinha Agnes. - Olhei surpresa para Mari. Ela aparentava ser nova demais para ter filhos e o apartamento dela mais seu estilo de vida era de uma pessoa solteira sem filhos.
- Não sabia que tinha filhos!
- E não tenho. Agnes não chegou a ver a luz do dia e nem a usar a manta. Morreu horas depois do parto... A gravidez de Agnes foi uma gravidez difícil, de alto risco, sabe? Mas nos meses seguintes da descoberta eu fui feliz...
- Sinto muito. - Eu disse sem saber muito o que dizer.
- Não faz mal... Vc não tinha como saber... Veja... esse retalho é perfeito para as partes de pele do arqueiro... - Não voltamos mais a falar da pequena Agnes ou da manta Rosa. Mas depois que Mari se foi eu fiquei pensando... A gravidez de TJ também fora muito difícil... os únicos 2 anos da minha vida de adulta que eu me controlei relativo a comida...
Na segunda seguinte, fui até a casa de Mari para a pesagem e estudo do diário... O médico que tinhamos ido disse que eu andava bem! Colesterol tinha baixado... Não estava no ideal mas tinha diminuído bastante...
- Menos 800 g... - Disse Mari anotando no caderno. Qdo ela pegou a fita para as medidas eu não resisti.
- Faz tempo?
- Faz tempo o que?
- Que... vc sabe...
- Fala da Agnes? Para mim as vezes parece que foi ontem outras que foi em uma vida passada. Mas a minha estrelinha partiu a 6 anos...
- 6 Anos?? Nossa! E como foi? - Mari nesta hora parecia indiferente.
- Ela morreu devido à "Complicações no parto" Na verdade foi uma série de erros desde sua concepção. Meus e dos médicos... Hoje eu não penso muito nisso... Depois que Agnes partiu eu me senti a criatura mais asquerosa da terra...  Achei que nunca iria me reerguer mas eu consegui... - Ela depositou o diário na mesa e foi até a parte baixa da estante. Ela pegou um álbum e abriu me entregando.
- Veja... Essa sou eu, uma semana antes do parto... - Ao me entregar o album eu não acreditei. Havia uma pessoa enorme nas fotos, com rosto bem cheio que lembrava vagamente a mulher que estava a minha frente.
- Onde?  - Perguntei ainda tentando encontrar. Mari sorriu e apontou para a maior mulher da foto.
- Aqui. - Eu arregalei os olhos, e como toda gorda que quer emagrecer..
- QTO vc pesava aqui?? - Mari deu os ombros e mudou a página do álbum...
- No fim da gravidez eu estava com quase 150. Veja esta outra aqui... Sou eu e meu ex-marido... - Na foto tinha um homem alto e sério. Parecia muito mais velho que ela, e ele era bem magro... Não pude deixar de notar que formavam um casal bem bizarro.
- Quanto vc pesa hoje? - Mari sentou e pegou no álbum sorrindo.
- Peso 58. e mantenho esse peso a... 2 anos... Me separei não muito tempo depois que a minha estrelinha partiu... depois de quase... 8 anos de casada...
- Vc parece tão novinha... nem parece que passou por tudo isso....
- Ora, Nara.. tenho 34... Apesar de não parecer...
- Vc se enfiou em que SPA? Para per... emagrecer esse peso todo...  -Mari sorriu e começou a checar as pesagens..
- Eu não me enfiei em SPA nenhum... Eu.... - Ela suspirou. - Vc realmente quer saber disso? É uma história tão enfadonha... - Mas eu estava ávida de curiosidade.
- Sim!!! Eu quero saber! - Mari fechou o álbum e olhou para a janela.
- Bom...
[ Fim da terceira parte]

Gente, Update rapidinho pra divulgar o sorteio da Darlana do Sem Template...

Se vc é de Brasília e região, passe lá!